segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Uma cartomante em Mostardas

HAMLET diz à Horácio que há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a
nossa vã filosofia. Esta era a mesma explicação que dava a bela Eduarda ao seu afer Ênio,
numa ensolarada tarde de uma sexta-feira de dezembro de 2011, enquanto este as gargalhadas lhe fazia escarnio,por ter ido consultar uma cartomante pela manhã; a diferença é que dizia com palavras menos rabuscadas e mais reais.

Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que
fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe
dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "Você
gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as
cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você
me esquecesse, mas que não era verdade...
Errou! interrompeu Ênio, rindo.
Não diga isso, Ênio. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua
causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Ênio pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe
queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso,
quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois,
repreendeu-a; disse-lhe que era perigoso ir a esses lugares. Manoel
podia saber, e depois...
Que saber,nada! Tive muita cautela,a cartomante é de Porto Alegre e está atendendo no hotel Mostardense. Ninguém me viu entrar.
Mas ali é tão no centro. Tem certeza que ninguém viu tu entrares?
Não, a Avenida Bento Gonçalves estava deserta. Era muito cedo, a Loja Parati não estava aberta ainda; não passava ninguém nessa hora. Descansa; eu não sou banza.
Ênio riu outra vez:
Tu acredita mesmo nessas coisas de magia,previsões,etc? perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que
havia muita coisa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não
acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que
mais? A prova é que ela agora estava tranquila e satisfeita.
Ênio ia falar, mas reprimiu-se. Não queria arrancar-lhe as ilusões.
Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um
arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos
desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e
ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os
ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação
total. Ênio não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não
possuía um só argumento: limitava-se a negar tudo. E digo mais, porque
negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do
mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Eduarda estava certa de ser
amada; Ênio, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele,
correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de
sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era lá na Rua Ana Amália Leite,
onde morava uma grande amiga,solteira,de Eduarda. Esta seguiu pela Rua Luiz Araújo, na direção do centro , onde residia; Ênio desceu pela Almirante Tamandaré e entrou na Bento Gonçalves até a frente do Hotel, olhando de passagem para dentro conferindo o movimento da cartomante.
Manoel, Ênio e Eduarda, três nomes, uma aventura e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela.
Os dois primeiros eram amigos de infância. Manoel cursou direito e se tornou juiz. Ênio fez concurso para a prefeitura e é funcionário público, contra a vontade do pai, que o queria formado em medicina; mas o pai morreu, e Ênio preferiu não estudar ,e só se tornou funcionário publico por que a mãe lhe incentivou a prestar concurso para prefeitura. No princípio de 2007, voltou Manoel da capital,Porto Alegre, onde casara com uma linda mulher que conheceu na faculdade, formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir um escritório de advocacia em Mostardas .
Ênio arranjou-lhe casa na rua XV de Novembro,perto da rodoviária e foi esperá-los no portão da casa.
Então você é o famoso amigo do meu marido ? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo, falava sempre de você.
Ênio e Manoel olharam-se com ternura. Eram muito amigos mesmo .
Depois, Ênio confessou de si para si que a mulher do Manoel não
desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos,
olhos doces, boca fina e interrogativa e que curvas. Era um pouco mais velha que
ambos: devia ter uns trinta anos, Manoel vinte e nove e Ênio vinte e seis.
Entretanto, o porte robusto e altivo de Manoel fazia-o parecer mais velho que a mulher,
enquanto Ênio era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a
ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de
alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a
mãe de Ênio, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes
amigos dele. Manoel cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Eduarda
tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não soube precisar. A verdade é que
gostava de passar as horas ao lado dela, era a sua enfermeira moral, quase
uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femmina: eis o
que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam
os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Ênio ensinou-lhe a jogar
damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser
agradável, pouco menos mal. Até aí as coisas estavam sob controle. Agora a ação da pessoa, os
olhos teimosos de Eduarda, que procuravam muitas vezes os dele, que os
consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas.
Um dia, fazendo ele aniversário, recebeu de Manoel um rico Kit de chimarrão, todo de prata, de presente e de Eduarda apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então
que ele pôde ler no próprio coração, não conseguia arrancar os olhos do
bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo
menos, deleitosas.
Assim é o homem, assim são as coisas que o cercam. Ênio quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Eduarda, como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos
num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e
subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, os sentimentos eram uma mistura só, mas a
batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o
sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados,
pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada
mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A
confiança e estima de Manoel continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Ênio uma carta anônima, que lhe chamava
imoral e traidor, e dizia que a aventura era sabida de todos. Ênio teve
medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de
Manoel. Este notou-lhe as ausências. Ênio respondeu que o motivo era uma
paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se,
e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso
um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do
marido, para tornar menos dura a sensação de traição.
Foi por esse tempo que Eduarda, desconfiada e medrosa, correu à cartomante
para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Ênio.
Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a
por ter feito o que fez. Passaram-se ainda algumas semanas. Ênio recebeu
mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser
advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião
de Eduarda, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento:
a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse
é ativo e pródigo.
Nem por isso Ênio ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse contar para
Manoel, e a catástrofe viria então sem remédio. Eduarda concordou que
era possível.
Bem, disse ela; eu levo as cartas para comparar a letra com as das
cartas que aparecerem lá em casa; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Manoel começou a mostrar-se
sombrio, falando pouco, como desconfiado. Eduarda foi correndo contar ao
outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Ênio devia voltar a
casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de
algum negócio particular. Ênio divergia; aparecer depois de tantos meses
era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se,
sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se
corresponderem , em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Ênio este bilhete de
Manoel: "Vem já, já, a minha casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de
meio-dia. Ênio saiu logo; na rua, pensou que teria sido mais natural
chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a
letra, fosse realidade ou ilusão, parecia trêmula. Ele combinou todas
essas coisas com a notícia da véspera.
Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com
os olhos no papel.
Imaginariamente, vislumbrou a cena de um drama, Eduarda subjugada e
chorosa, Manoel indignado, pegando a caneta e escrevendo o bilhete, certo
de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Ênio estremeceu, tinha
medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a ideia de
recuar, e foi andando. A caminho, lembrou-se de ir em casa; podia achar
algum recado de Eduarda, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem
ninguém. Voltou à rua, e a ideia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez
mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa
que o ameaçara antes; podia ser que Manoel conhecesse agora tudo. E mesmo a
suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto
fútil, viria confirmar o resto.
Ênio ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as
palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas, ou então, — o que era
ainda pior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Manoel.
"Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas assim, pela
voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê?
Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto.
Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo.
Positivamente, tinha medo. Começou a cogitar em ir armado, considerando
que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois
rejeitava a ideia, vexado de si mesmo, e seguia, apressando o passo, na direção
da rodoviária. Naquela hora encontrava todos a caminho do serviço. Vinha pela rua Pinheiro Machado.
"Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim..O tempo
voava,a cada passo que dava e ele não tardaria a entestar com o perigo. Na esquina com a avenida Bento Gonçalves parou e titubeou,seguir reto e rápido pela avenida Pinheiro Machado e chegar logo na casa de Manoel ou entrar na avenida Bento Gonçalves e consultar a cartomante e ver se ela dá alguma dica sobre o que acontecerá. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. Depois
fez um gesto incrédulo: era a ideia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao
longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e
tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas,
mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens,que trabalhavam na ampliação da Loja Parati.
Anda! agora! puxa! vá! vá!Cadê o cimento?
Ênio fechou os olhos, pensava em outras coisas: mas a voz do marido sussurrava-lhe a orelhas as
palavras da carta: "Vem, já, já..." E ele via os contornos do drama e tremia.
Deu por si na calçada, ao pé da porta,na entrada do hotel Mostardense enfiou-se pelo corredor. A luz era pouca, chegou em frente da porta ,de dentro vinha um cheiro de incenso e a luz era vermelha e sombria
Bateu e esperou alguém aparecer ou lhe responder. Não aparecendo ninguém, pensou em sair; mas era
tarde, a curiosidade fervia o sangue, a testa latejava e suava a bicas; ele
tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante.
Ênio disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Da porta foram atravessando cortinas pesadas e outras esvoaçantes até chegar em uma salinha, mal iluminada por uma janela, que dava para os fundos do hotel.
A decoração era composta de panos e uma mesa com duas cadeiras estofadas.
A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com
as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no
rosto de Ênio. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e
surradas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de
rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana,
morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Colocou três cartas
sobre a mesa, e disse-lhe:
Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. Você tem um grande problema...
Ênio, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
E quer saber, continuou ela, se conseguirá solucionar este problema ou se acontecerá alguma coisa ou não...
  • A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu: disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra
vez as cartas e embaralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas bem pintadas de vermelho sangue; embaralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas. três vezes;
depois começou a estendê-las. Ênio tinha os olhos nela curioso e ansioso.
As cartas dizem-me...
Ênio inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe
que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro;
ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável muita cautela:
ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de
Eduarda. . . Ênio estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as
cartas e fechou-as na gaveta.
A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por
cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu,
como se fosse a mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante
foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com uvas, tirou um cacho
destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de
dentes muito brancos com uma dentadura perfeita. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha
um ar particular. Ênio, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava
o preço.
Quanto custa esta consulta,senhora?
Pergunte ao seu coração, respondeu ela. Ênio tirou uma nota de cem reais, e deu-lhe. Os olhos da cartomante brilharam. O preço usual era trinta reais.
Vejo bem que o você gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do
você. Vá, vá, tranquilo.
A cartomante tinha já guardado a nota na carteira, e seguia com ele,
falando, com um leve sotaque. Ênio despediu-se dela no corredor escuro que levava à rua, enquanto a cartomante, alegre com a paga, retornava para o seu aposento, cantarolando uma barcarola. Ênio retornou ao seu caminho até a casa de Manoel.
Tudo lhe parecia agora melhor, as outras coisas traziam outro aspecto, o
céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que
chamou pueris; recordou os termos da carta de Manoel e reconheceu que eram
íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu
também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser
algum negócio grave e gravíssimo.
Apressou o passo e foi conversando com os seus botões para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer coisa; parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para retornar à
antiga assiduidade... De volta com os planos, remoia-lhe na alma as
palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o
estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O
presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as
velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o
com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado;
mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá,
vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e
graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos,
uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas
felizes de outrora e nas que haviam de vir. Resolveu seguir até o fim da Pinheiro Machado e desfrutar da vista da lagoa do Fumo que lhe dava uma sensação de paz e tranquilidade. Contornou a quadra e seguiu pela XV de novembro até chegar a casa de Manoel. Empurrou o portão de ferro
do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra,
e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Manoel.
Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Manoel não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e
foram para uma saleta interior. Entrando, Ênio não pôde sufocar um grito
de terror: — ao fundo estendida no tapete da sala, estava Eduarda morta e ensanguentada.
Manoel pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no
chão.
FIM

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