HAMLET diz à Horácio que há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a
nossa vã filosofia. Esta era a mesma explicação que dava a bela Eduarda ao seu afer Ênio,
numa ensolarada tarde de uma sexta-feira de dezembro de 2011, enquanto este as gargalhadas lhe fazia escarnio,por ter ido consultar uma cartomante pela manhã; a diferença é que dizia com palavras menos rabuscadas e mais reais.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que
fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe
dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "Você
gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as
cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você
me esquecesse, mas que não era verdade...
— Errou! interrompeu Ênio, rindo.
— Não diga isso, Ênio. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua
causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Ênio pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe
queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso,
quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois,
repreendeu-a; disse-lhe que era perigoso ir a esses lugares. Manoel
podia saber, e depois...
— Que saber,nada! Tive muita cautela,a cartomante é de Porto Alegre e está atendendo no hotel Mostardense. Ninguém me viu entrar.
— Mas ali é tão no centro. Tem certeza que ninguém viu tu entrares?
— Não, a Avenida Bento Gonçalves estava deserta. Era muito cedo, a Loja Parati não estava aberta ainda; não passava ninguém nessa hora. Descansa; eu não sou banza.
Ênio riu outra vez:
— Tu acredita mesmo nessas coisas de magia,previsões,etc? perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que
havia muita coisa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não
acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que
mais? A prova é que ela agora estava tranquila e satisfeita.
Ênio ia falar, mas reprimiu-se. Não queria arrancar-lhe as ilusões.
Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um
arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos
desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e
ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os
ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação
total. Ênio não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não
possuía um só argumento: limitava-se a negar tudo. E digo mais, porque
negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do
mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Eduarda estava certa de ser
amada; Ênio, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele,
correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de
sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era lá na Rua Ana Amália Leite,
onde morava uma grande amiga,solteira,de Eduarda. Esta seguiu pela Rua Luiz Araújo, na direção do centro , onde residia; Ênio desceu pela Almirante Tamandaré e entrou na Bento Gonçalves até a frente do Hotel, olhando de passagem para dentro conferindo o movimento da cartomante.
Manoel, Ênio e Eduarda, três nomes, uma aventura e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela.
Os dois primeiros eram amigos de infância. Manoel cursou direito e se tornou juiz. Ênio fez concurso para a prefeitura e é funcionário público, contra a vontade do pai, que o queria formado em medicina; mas o pai morreu, e Ênio preferiu não estudar ,e só se tornou funcionário publico por que a mãe lhe incentivou a prestar concurso para prefeitura. No princípio de 2007, voltou Manoel da capital,Porto Alegre, onde casara com uma linda mulher que conheceu na faculdade, formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir um escritório de advocacia em Mostardas .
Ênio arranjou-lhe casa na rua XV de Novembro,perto da rodoviária e foi esperá-los no portão da casa.
— Então você é o famoso amigo do meu marido ? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo, falava sempre de você.
Ênio e Manoel olharam-se com ternura. Eram muito amigos mesmo .
Depois, Ênio confessou de si para si que a mulher do Manoel não
desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos,
olhos doces, boca fina e interrogativa e que curvas. Era um pouco mais velha que
ambos: devia ter uns trinta anos, Manoel vinte e nove e Ênio vinte e seis.
Entretanto, o porte robusto e altivo de Manoel fazia-o parecer mais velho que a mulher,
enquanto Ênio era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a
ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de
alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a
mãe de Ênio, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes
amigos dele. Manoel cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Eduarda
tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não soube precisar. A verdade é que
gostava de passar as horas ao lado dela, era a sua enfermeira moral, quase
uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femmina: eis o
que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam
os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Ênio ensinou-lhe a jogar
damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser
agradável, pouco menos mal. Até aí as coisas estavam sob controle. Agora a ação da pessoa, os
olhos teimosos de Eduarda, que procuravam muitas vezes os dele, que os
consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas.
Um dia, fazendo ele aniversário, recebeu de Manoel um rico Kit de chimarrão, todo de prata, de presente e de Eduarda apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então
que ele pôde ler no próprio coração, não conseguia arrancar os olhos do
bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo
menos, deleitosas.
Assim é o homem, assim são as coisas que o cercam. Ênio quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Eduarda, como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos
num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e
subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, os sentimentos eram uma mistura só, mas a
batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o
sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados,
pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada
mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A
confiança e estima de Manoel continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Ênio uma carta anônima, que lhe chamava
imoral e traidor, e dizia que a aventura era sabida de todos. Ênio teve
medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de
Manoel. Este notou-lhe as ausências. Ênio respondeu que o motivo era uma
paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se,
e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso
um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do
marido, para tornar menos dura a sensação de traição.
Foi por esse tempo que Eduarda, desconfiada e medrosa, correu à cartomante
para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Ênio.
Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a
por ter feito o que fez. Passaram-se ainda algumas semanas. Ênio recebeu
mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser
advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião
de Eduarda, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento:
— a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse
é ativo e pródigo.
Nem por isso Ênio ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse contar para
Manoel, e a catástrofe viria então sem remédio. Eduarda concordou que
era possível.
— Bem, disse ela; eu levo as cartas para comparar a letra com as das
cartas que aparecerem lá em casa; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Manoel começou a mostrar-se
sombrio, falando pouco, como desconfiado. Eduarda foi correndo contar ao
outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Ênio devia voltar a
casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de
algum negócio particular. Ênio divergia; aparecer depois de tantos meses
era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se,
sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se
corresponderem , em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Ênio este bilhete de
Manoel: "Vem já, já, a minha casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de
meio-dia. Ênio saiu logo; na rua, pensou que teria sido mais natural
chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a
letra, fosse realidade ou ilusão, parecia trêmula. Ele combinou todas
essas coisas com a notícia da véspera.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com
os olhos no papel.
Imaginariamente, vislumbrou a cena de um drama, Eduarda subjugada e
chorosa, Manoel indignado, pegando a caneta e escrevendo o bilhete, certo
de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Ênio estremeceu, tinha
medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a ideia de
recuar, e foi andando. A caminho, lembrou-se de ir em casa; podia achar
algum recado de Eduarda, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem
ninguém. Voltou à rua, e a ideia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez
mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa
que o ameaçara antes; podia ser que Manoel conhecesse agora tudo. E mesmo a
suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto
fútil, viria confirmar o resto.
Ênio ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as
palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas, ou então, — o que era
ainda pior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Manoel.
"Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas assim, pela
voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê?
Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto.
Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo.
Positivamente, tinha medo. Começou a cogitar em ir armado, considerando
que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois
rejeitava a ideia, vexado de si mesmo, e seguia, apressando o passo, na direção
da rodoviária. Naquela hora encontrava todos a caminho do serviço. Vinha pela rua Pinheiro Machado.
"Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim..O tempo
voava,a cada passo que dava e ele não tardaria a entestar com o perigo. Na esquina com a avenida Bento Gonçalves parou e titubeou,seguir reto e rápido pela avenida Pinheiro Machado e chegar logo na casa de Manoel ou entrar na avenida Bento Gonçalves e consultar a cartomante e ver se ela dá alguma dica sobre o que acontecerá. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. Depois
fez um gesto incrédulo: era a ideia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao
longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e
tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas,
mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens,que trabalhavam na ampliação da Loja Parati.
— Anda! agora! puxa! vá! vá!Cadê o cimento?
Ênio fechou os olhos, pensava em outras coisas: mas a voz do marido sussurrava-lhe a orelhas as
palavras da carta: "Vem, já, já..." E ele via os contornos do drama e tremia.
Deu por si na calçada, ao pé da porta,na entrada do hotel Mostardense enfiou-se pelo corredor. A luz era pouca, chegou em frente da porta ,de dentro vinha um cheiro de incenso e a luz era vermelha e sombria
Bateu e esperou alguém aparecer ou lhe responder. Não aparecendo ninguém, pensou em sair; mas era
tarde, a curiosidade fervia o sangue, a testa latejava e suava a bicas; ele
tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante.
Ênio disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Da porta foram atravessando cortinas pesadas e outras esvoaçantes até chegar em uma salinha, mal iluminada por uma janela, que dava para os fundos do hotel.
A decoração era composta de panos e uma mesa com duas cadeiras estofadas.
A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com
as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no
rosto de Ênio. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e
surradas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de
rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana,
morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Colocou três cartas
sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. Você tem um grande problema...
Ênio, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
— E quer saber, continuou ela, se conseguirá solucionar este problema ou se acontecerá alguma coisa ou não...
A cartomante não sorriu: disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra
vez as cartas e embaralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas bem pintadas de vermelho sangue; embaralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas. três vezes;
depois começou a estendê-las. Ênio tinha os olhos nela curioso e ansioso.
— As cartas dizem-me...
Ênio inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe
que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro;
ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável muita cautela:
ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de
Eduarda. . . Ênio estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as
cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por
cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu,
como se fosse a mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante
foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com uvas, tirou um cacho
destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de
dentes muito brancos com uma dentadura perfeita. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha
um ar particular. Ênio, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava
o preço.
— Quanto custa esta consulta,senhora?
— Pergunte ao seu coração, respondeu ela. Ênio tirou uma nota de cem reais, e deu-lhe. Os olhos da cartomante brilharam. O preço usual era trinta reais.
— Vejo bem que o você gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do
você. Vá, vá, tranquilo.
A cartomante tinha já guardado a nota na carteira, e seguia com ele,
falando, com um leve sotaque. Ênio despediu-se dela no corredor escuro que levava à rua, enquanto a cartomante, alegre com a paga, retornava para o seu aposento, cantarolando uma barcarola. Ênio retornou ao seu caminho até a casa de Manoel.
Tudo lhe parecia agora melhor, as outras coisas traziam outro aspecto, o
céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que
chamou pueris; recordou os termos da carta de Manoel e reconheceu que eram
íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu
também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser
algum negócio grave e gravíssimo.
Apressou o passo e foi conversando com os seus botões para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer coisa; parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para retornar à
antiga assiduidade... De volta com os planos, remoia-lhe na alma as
palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o
estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O
presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as
velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o
com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado;
mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá,
vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e
graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos,
uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas
felizes de outrora e nas que haviam de vir. Resolveu seguir até o fim da Pinheiro Machado e desfrutar da vista da lagoa do Fumo que lhe dava uma sensação de paz e tranquilidade. Contornou a quadra e seguiu pela XV de novembro até chegar a casa de Manoel. Empurrou o portão de ferro
do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra,
e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Manoel.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Manoel não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e
foram para uma saleta interior. Entrando, Ênio não pôde sufocar um grito
de terror: — ao fundo estendida no tapete da sala, estava Eduarda morta e ensanguentada.
Manoel pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no
chão.
FIM